"Eu sei que soa clichê, mas não é!": Uma história sobre o meu casamento
Por Vanessa Fialho E a minha história começa exatamente assim: “Olha, eu sei que soa clichê, mas não, não é clichê. Foi a melhor noite da minha vida! Case-se também!”
Para quem não me conhece, o meu nome é Vanessa Fialho, tenho 32 anos e, no ano passado, no dia 19 de julho, eu me casei. Sim, eu disse “sim” para ele. Após quatro anos e meio de namoro, resolvemos que aquela era a hora. E, não, aquela frase super clichê no início do texto não é minha.
Engana-se quem acha que a visão romântica do casamento vem apenas da mulher. Ok, temos que admitir: inicialmente vem, sim. Ganhamos bonecas e panelinhas de presente quando crianças. Crescemos brincando de “mamãe e filhinha” e de “fazer comidinha”. E, em meio a tudo isso, é praticamente impossível não querer ser a matriarca de uma família “comercial de margarina” – com direito a casa com cerca branca e um cachorro no quintal. Enquanto nós, mulheres, sonhamos em subir ao altar com o amor das nossas vidas (e hoje em dia está mais fácil encontrar uma agulha no palheiro do que um cupido competente), determinados homens simplesmente tem aversão à cerimônia.
Espante-se: meu marido era um desses caras que gritava aos quatro cantos que era mais fácil o mundo acabar do que ele subir ao altar.
E, se estiver em pé, sente-se para não cair: aquela frase super clichê do inicinho do texto é dele!
Hoje em dia, o mundo é muito cabeça aberta. E como diz a minha mãe, com tanta gente “pra frentex!”, casar, para alguns, virou sinônimo de caretice. Ao relatar para algumas pessoas sobre a minha vontade de casar, escutei um monte de gente – incluindo o Alon, meu marido - dizer o quê, para mim, não passa de um monte de besteiras. “Pra que gastar um rio de dinheiro com casamento?”... “É sério que você quer mesmo fazer esse papelão antiquado?”... “Deixa de bobeira e vá logo morar com ele!”... “O casamento não passa de uma instituição falida!”...
Do Alon, eu ainda escutei “eu te amo e não preciso de papel, rabino ou padre para provar isso!”
Bom, o que posso dizer é que ao escutar *****T-O-D-A-S***** essas frases - e mais algumas - eu sempre bati o pé. Não somente por mim, mas também pela minha família e por acreditar em nós dois.
Isso mesmo, por acreditar que nós dois merecíamos VIVER essa experiência. De família tradicional, sou daquelas que aprendi, em casa, que todo e qualquer ritual não acontece à toa. Acredito, sim, que temos que celebrar cada grande passo das nossas vidas para que NUNCA, JAMAIS eles corram o risco da banalização. E foi batendo nesta tecla que eu consegui abrir aquela cabeça mais dura que pedra sobre tal assunto. (E, segredinho nosso, mas também batendo em várias outras teclas BEM SUJINHAS como “menino, o meu pai vai te matar se escutar isso!”. Também a velha “então prova que me ama!”. E a “se é tão simples, para que tanto drama por conta de uma caneta, um papel e um anel no dedo?”. E a melhor de todas, a grande campeã, a mais ”novela mexicana” do planeta: “você está achando o que? Que me encontrou na lata de lixo? Está achando que eu vou, assim, na boa, jogar a minha vida pro alto e seguir com você, Alon Jorge Augusto Otávio José Daniel?! Vai ter que jurar para Deeeeeus que me ama se quiser mesmo ficar comigo!”.)
Depois de anos conversando amigavelmente – ou não! - sobre o tema, insistindo no que eu acreditava, dizendo repetidamente “não, filho, tira o cavalo da chuva poque o buraco é mais embaixo!”, de incansavelmente cantarolar na orelha dele aquela música da Beyoncé“ If you liked it, then you should have put a ring on it... If you liked it, then you should have put a ring on it... Oh oh oh, oh oh oh, oh oh oh, oh oh oh!”, dançando e jogando a mãozinha direita para cima, ele me disse o “SIM” que eu mais queria ouvir!
Disse, mas impôs a seguinte condição “ok, vamos nos casar. Mas pelo amor de Deus, cala a boca! Deus inventou a música, criou você e o Capiroto te deu uma aula particular de canto! Não é possível! Que dom é esse de arruinar qualquer canção?”. “Ok, Alon. Então coloque uma aliança bem bonita nesse dedo senão eu me inscreverei no Show de Calouros e vou te chamar no palco para cantar Whitney Houston comigo.”
Bom, acho que ele imaginou a cena...
E, temendo o pior, ele agiu imediatamente!
Brincadeiras à parte, depois de todo este drama – ou comédia -romântica, sabe-se lá o quê – eu afirmo: não tem satisfação MAIOR, para mim, ao vê-lo conversando com os seus amigos que namoram há um longo tempo, escutar da boca dele “Não, não é clichê. A noite do nosso casamento foi a melhor noite da minha vida! Case-se também!”. Porque eu, como mulher, sempre esperei desse ritual o nosso primeiro grande passo. E, por mais que opinem contra o casamento, é fato: o casamento sempre foi e sempre será a decisão mais natural e a maior prova de amor da história de qualquer casal.
Mas, escutar isso, repetidamente, da boca dele... não, não é clichê! É muita alegria mesmo! Uma alegria incomensurável! Só por conta disso, mesmo que não tivesse sido a noite mais feliz da minha vida, já teria valido a pena por ter sido, até então, a noite mais feliz da vida dele.
E assim foi o nosso “sim”: o mais clichê de TODOS! A noite mais feliz da minha vida, a noite mais feliz da vida dele, a noite mais feliz das nossas vidas, o nosso primeiro grande ritual juntos e, sinceramente, não teria melhor maneira no mundo de comemorarmos a maior das nossas vitórias: o início da nossa vida matrimonial cercados de arte. Pinturas, esculturas e restaurações: o resgate daquilo que pode, sim, envelhecer com o tempo, mas que nunca perderá o seu valor – assim como o AMOR. Num mundo tão moderno e tão carente de princípios, o amor prova, dia após dia, que nada mais é que a arte-mãe de todo o universo – e que vale a pena, sim, ser fiel ao que se sente, mesmo que soe clichê.
Grandes passos, grandes vitórias e grandes alegrias: quem dera se pudéssemos celebrar, assim, com grandes comemorações, todos os grandes momentos das nossas vidas. Mas a conquista maior – que foi dar, juntos, o maior dos passos da nossa história – essa, sim, foi celebrada – e muito bem celebrada, diga-se de passagem. E de tão bem celebrada, tornou-se INESQUECÍVEL. Inesquecível para mim, para os nossos amigos e, quem diria, para aquele “ex-convicto” que transformou a sua visão sobre o matrimônio da água para o vinho.
Sim, confesso que eu quebrei a minha promessa. Na nossa festa de casamento, tomei o microfone da mão da cantora da banda e rasguei um single do Bon Jovi. E, segundo o Alon, eu cantei muito bem!
Aaaaaah, como o amor é lindo! <3 Rasguei o Bom Jovi e, segundo as minhas amigas, rasguei também os tímpanos de todo mundo – inclusive os delas!
(Não deve ter ficado muito diferente disso uma vez que eu cantei EXATAMENTE essa música!)
PS 2. E deixo aqui registrada a minha enorme honra em ser a noiva convidada a inaugurar a coluna. O meu carinho e agradecimento eternos a (também minha) Família Caravaggio por não somente fazerem da noite do meu casamento a noite mais feliz da minha vida, mas por toda a amizade e pelo milagre da conversão de um solteiro-convicto/cabeça-dura a romântico-clichê/coração-mole! A culpa é, sim, de vocês, por mostrarem a ele o que o amor e a arte têm em comum: a tamanha sensibilidade que ambos requerem, fazendo com que ninguém se sinta culpado por ser tão clichê. Beijos com muito carinho! <3 <3 <3
Fotos: Henrique Pimentel Uma das muitas eternas noivas Caravaggio. Aquela que, mesmo casada, recusa-se a mudar de espírito. #brideforever